Bordar

Bordar

Nunca fui de bordar.
Nunca fui de fazer ponto cruz.
Nunca fui de tricotar.

Nunca fui de pegar em agulhas e linhas para matar tempo. Achava mesmo que era isso, uma grande perda de tempo.
Mas aí eu não sabia.
Eu queria viver, tinha pressa de viver e uma ânsia devoradora de viver.

A ânsia foi mesmo devoradora. Devorou sonhos, devorou ideais, devorou membros e histórias.

Nunca fui de fazer estas coisas que “as avós ensinam porque as meninas precisam de saber”. Sempre achei preconceituoso esta junção de decoro com tradição no sexo feminino.

Talvez por isso nunca tenha sido de bordar.
Talvez por isso nunca tenha sido de fazer ponto cruz.
Talvez por isso nunca tenha sido de fazer tricô.

Mas tive de parar.
Tive de acentar ideias.

Estes processos mais manuais acabam por ser meditativos. São processos em que estamos sós connosco próprios. Neste processo só estamos nós, um pano e linha. Um processo intrusivo, relaxante e ancestral.

Se sou excelente nisto? Não.
Se tenho geito? Tenho.
Se gosto? Depende do dia. Depende dos meus monstros, depende da minha esfera.
Se vou fazer vida disto? Não sei.
Que tem piada tem. Mas mais não sei.

É o que é.
Um pano, agulha e linha… O resto a ele virá.

19/04/2021