Maio maião, pára de me dar comichão!
Ao longo da minha curta vida, o mês de Maio tem sido um mês complicado.
É sempre muita coisa pesada para digerir. Espero que este ano seja bem mais leve.
Ora muito bem. Para poder introduzir vossas excelências a este tema deverei de começar por dizer que Maio é o mês das flores, das procissões e cumprimento de algumas promessas.
Comigo não se passou nunca bem assim.
Nestes últimos 7 anos as coisas não têm sido fáceis na minha vida. Muito menos no mês de Maio. Parece que se algo de mau tem de ser e será sempre neste mês.
Ora pois muito bem, recapitulemos até ao ano de 2012. Ano esse em que eu era caloira na Universidade do Algarve no curso de Design de Comunicação. Por esta altura estávamos nas entregas de projectos e trabalhos para as diversas cadeiras do curso. Após terminar a minha apresentação de um trabalho que eu odiei fazer mas que por teimosia e insistência determinei que o iria terminar e levar até ao fim, embora o resultado final não fosse o desejado pelo docente. Após o término da apresentação, em frente de 2 turmas, cerca de 50 pessoas numa sala de aula, o professor começa a dizer que o trabalho não correspondia às suas expectativas, que os trabalhos dos meus colegas era completamente diferentes e começou ali, perante aquela plateia, a insinuar que o meu trabalho era em larga escala inferior ao dos outros meus colegas, que eu não estava a fazer nada naquela cadeira, muito menos naquela escola, para além do facto de estar a ocupar o lugar de uma outra pessoa que não entrou no curso. Disse-me na cara que era uma “merda” e que nunca na vida iria ser Designer de Comunicação.
Bom, quanto a esta história não me irei alongar muito mais. Poderá ser contada numa outra altura. E se formos a ver bem só estamos no início.
Ocorria o ano de 2013. Ano esse que estava a estudar e que ia muitas vezes a casa porque a minha queria avó estava constantemente no hospital. Lembro-me de uma sexta-feira à noite em que tinha acabado de chegar no autocarro que faz o percurso Alentejo — Algarve e que mal comi a minha refeição às 9h da noite, peguei no carro e fui ter com a minha avó. A senhora de sua bela idade, estava a sentir uns apertos no peito. Automaticamente chamamos os bombeiros. Após uns belos três quartos de hora fomos a toda a velocidade para o hospital distrital. Foi só um valente susto. Tensão arterial bastante elevada, pulsações descontroladas e o nível de glicemia a oscilar constantemente. Nada de muito grave. Tudo se controlou com medicação e vigia constante.
Em 2014 era finalista do curso que supostamente nunca iria acabar. Quebrando assim com todas as baixas expectativas daquele “animal” apelidado de professor, bem como de alguns colegas bastante snobes.
Tudo muito bem, trabalhos de cadeiras quase a terminar, estudos todos em dia, eu fazia a Queima das Fitas na terceira semana de Maio. Estava tudo a andar. Se não fosse o coitado do meu avô ter falecido uma semana antes de eu festejar esta grande batalha a que me sujeitei. Não queria de forma alguma celebrar este acontecimento, que marca a vida de um jovem universitário para sempre. Sentia que o momento não era de festejo.
A pedido dos meus pais acabei por celebrar a passagem junto dos meus colegas. Privei pouco com eles. Mas fi-lo sobretudo porque a minha mãe mo pediu para o fazer. E uma vez que era a primeira pessoa da família a terminar um curso universitário…
O meu avô adorava celebrar todos os momentos, adorava tudo o que eram cerimónias colectivas e sendo ele o grande impulsionador de eu pertencer a algo maior do que eu, para além do facto de ele ter pretendido em vida, que as suas netas trajassem e soubessem o que eram e são as tradições que temos que manter vivas na nossa vida e perpetuar para as futuras gerações.
No ano seguinte, em Maio de 2015 estou no meu primeiro trabalho. Sou assistente de um call center. Estou a receber formação para atender pessoas ao telefone e ser simpática.
Não aguentei muito tempo lá, confesso. Deverei de admitir que apenas estive lá um mês e meio. Não aguentava com a pressão dos superiores para impingirmos produtos e serviços a quem nos dizia em linha que não tinha dinheiro para pagar as contas e queria negociar os contratos.
Na terceira semana deste fatídico mês, um grande amigo, um amigo de infância suicida-se.
Até hoje ainda não sei a razão da sua acção. Não sei porquê. E que muito me perguntei porquê. Não consigo nunca encontrar uma razão plausível, credível para o acto que ele cometeu.
Fez um ano e uma semana que o meu avô faleceu. E um grande amigo meu morreu.
Ano após ano…. Em tão pouco tempo perdi duas pessoas que me eram muito queridas.
No ano seguinte (2016), estava em Guimarães a tirar o mestrado. Estava em ilustração. Era juntar o sonho de aprender tudo com todos com o sonho de poder a vir a trabalhar como artista em Portugal.
Sim. Um sonho. Só isso. Mais nada. Deverei de dizer que neste ano tudo aconteceu ao contrário. Deveria de aperfeiçoar o traço, o desenho, o estilo. Tudo. E acabei não fazendo nada. Perdi o movimento no braço direito. Isolei-me de amigos e colegas por causa desta limitação.
Mais uma vez, em Maio, fiquei completamente paralisada na cama. Lembro-me que era sábado, tinha aulas nesse dia de manhã. Queria-me levantar e ir para as aulas. O despertador tocou e não me consegui mexer. Fiquei completamente imóvel durante quase um dia inteiro. Só chorava. Desesperei. Nem um grito de socorro foi ouvido pela minha vizinha. — Coitada da senhora, já era meio surda e estava cada vez mais cega e manca. — Estava sozinha em casa, e só ouvia a minha pequena cadela a chorar. A minha única companhia.
2017, retorno para o Alentejo. Meses de exames e médicos para cá e para lá e nenhuma solução em vista. Era tudo e não era nada. Fiz tudo o que era humanamente possível. Já desesperava por uma solução para o problema do braço. Eis que, e já a perder o total controlo e a resolução total do problema que em Maio, vou com a minha mãe a um homeopata. Após 4 horas de espera para ser atendida, eis que em 15 minutos de puxões e violência para com o meu membro superior, que tudo começa a desvanecer. A dor começa a passar. Emerge para o éter. Vai… Meses depois recupero completamente. Estou como nova. Pronta para enfrentar os próximos desafios da vida.
E que desafios esses. Em 2018 já estou a trabalhar. Aparentemente está tudo a correr bem. Retorno ao Algarve. O trabalho vai andando, a vida também.
Só que mais uma vez, não. As coisas começam a descambar.
O bullying no trabalho aumenta a cada dia que passa. Estou constantemente a sentir-me em ruptura. Eis que a coisa descamba. Eu morava com um velho senhor inglês, que tinha por norma não lavar a loiça e achar que eu não me importaria do fazer. Velho dum raio. Manhoso. Certo dia decidi por via de conversa, dizer-lhe que cada um tem de tratar das suas coisas e limpar o que lhe pertence. Digamos que conversa foi o menos que aconteceu. Houve gritos, acusações, “facas” à mistura. Senti-me ameaçada, violada. Por um triz que não fui posta na rua no imediato só por querer resolver as coisas diplomaticamente. Passei o restante mês de Maio, desesperadamente à procurar de encontrar uma casa para puder habitar. Mas estando no Algarve, encontrar casa para morar é como encontrar uma agulha num palheiro.
Digamos que todas estas situações culminaram numa depressão.
Penso que já foi.
Espero que Maio de 2019 não seja nada disto. Que seja só paz, luz e amor.
À que quebrar o padrão ao fim de um certo tempo, certo?
Ana Moura,
3 de Maio de 2019