Páscoa

Páscoa – Um segundo Natal a meio do ano. 

É verdade. 

Para mim a Páscoa é um segundo Natal a meio do ano. 

Uma altura em que se reúne a familia em torno da mesa, se come ensopado de borrego e se bebe vinho branco. 

Há sempre um cheiro a alecrim e rosmaninho pela casa. 

Descorando o valor intrínseco aos valores impostos pela igreja católica. A quaresma. Nunca foi posta como uma obrigação lá em casa. 

Há tradições e tradições. Nós criamos as nossas. 

Juntamo-nos todos em torno da mesa. Comemos e bebemos. Rimos e partilhamos o status actual da nossa vida. 

Não atribuímos o significado religioso à nossa rotina. 

Somos desprendidos dessa missão. Embora no inicio não fosse bem assim, uma vez que eu e a minha irmã estávamos na catequese e aprendemos todos os ritos e simbologias associadas a esta passagem do tempo. 

Essa experiência religiosa fez de mim crente? Não. Tal nunca aconteceu. Só ia lá porque a minha mãe fez questão. Sim questão que eu criasse pelo menos algum respeito por uma linha de pensamento. 

Bom, quanto a pormenores religiosos não irei entrar por ai. Uma vez que me considero não crente e não praticante de qualquer tipo de linha de pensamento ou rito espiritual. 

Basicamente não acredito em nada. Mas deixai-me estar como estou. A ideia não é impingir nada a ninguém e muito mentos descorar quem acredita em quê ou em quem.

A mensagem que hoje quero partilhar é sim de um sentimento de saudade por alguns que fui perdendo ao longo do tempo e por não conseguir cumprir com uma promessa que fiz a mim mesma. Contraditório não e verdade? 

Sim. Prometi a mim mesma que a Páscoa seria um segundo Natal para mim e para os meus. 

Infelizmente este ano não conseguirei estar em torno da mesa, rodeada por aqueles que mais amo, comer o ensopado de borrego e beber um belo de um copo de vinho branco. 

Circunstâncias da vida. 

Por motivos profissionais não conseguirei estar com a minha avó, com os meus pais, a minha irmã, os meus tios e os meus primos. Sim. Porque para mim há que estar em redor dos nossos. Partilhamos momentos. Sermos nós próprios rodeados da nossa familia. 

Cada ano que passa sinto que se torna cada vez mais difícil estarmos todos reunidos nestas épocas do ano. 

Cada um tem o seu trabalho, cada um está em locais diferentes, cada um tem opções diferentes. 

Portanto, cada um tem a sua vida. E esta não tem sido pêra doce para ninguém. 

Tendo em conta os que já perdemos na nossa vida reunir-mo-nos é cada vez mais importante. E é cada vez mais difícil de acontecer. 

Falo de avós, de amigos, de animais de estimação. 

Sim. Porque familia não são só laços de sangue. São todos aqueles pelos quais nutrimos amor, amizade e carinho. 

Em adolescente lembro-me de ir com a minha familia para o campo. Almoçávamos e deliciava-mos. (Sim, havia sempre muitos doces e guloseimas pelo meio.) Pelo meio da tarde pegávamos no carro. Dirigíamo-nos para a vinha. Verificava-mos se o estado da parra estava a seguir o seu percurso natural, se precisava de mais água ou sol para crescer saudável. Dar tempo ao tempo para colher os frutos. 

Contemplávamos a beleza natural que nos circundava. Brincávamos nos campos. Éramos crianças felizes. Estúpidas, mas felizes. 

É com alguma saudade e mágoa que recordo estes tempos. Saudades pela felicidade que sentia. Por ter sido e ser sempre uma criança feliz e ingénua. Tola! 

Mágoa por não ter dado o devido valor, o devido apreço a quem estava connosco, aos seus ensinamentos de pessoa sábia, talhada pela vida. 

Saudade. 

É a palavra que define este meu status actual. 

Boa Páscoa para todos vós! 

Sejam felizes. 

17 de Abril de 2019 

Vale de Parra, Albufeira. 

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